Uma leitura… em leitura
Publicado em Setembro passado, o último livro do olisipógrafo José Sarmento de Matos – A Invenção de Lisboa – é uma obra notável e inovadora no domínio da bibliografia olisiponense. Num tom de conversa amena mas firmemente alicerçada em leituras e reflexões sobre o devir histórico da cidade de Lisboa, o autor inicia a sua viagem ao passado lisboeta a partir de excertos da carta de um cruzado anónimo, que participou na conquista da cidade, em 1147.
Mais do que possíveis certezas sobre o pretérito desta cidade, parece-me que os aspectos mais interessantes neste livro (do qual se esperam novos volumes, visto figurar, como complemento de título, a menção Livro I – As Chegadas) são as hipóteses e sugestões que Sarmento de Matos vai lançando:
Mais do que possíveis certezas sobre o pretérito desta cidade, parece-me que os aspectos mais interessantes neste livro (do qual se esperam novos volumes, visto figurar, como complemento de título, a menção Livro I – As Chegadas) são as hipóteses e sugestões que Sarmento de Matos vai lançando:
- Será uma simples coincidência o facto dos limites do restaurado bispado de Lisboa, pouco tempo depois da sua tomada aos Mouros em 1147, que da zona de Alcácer do Sal a Sul se estendem até Leiria a Norte, decalcarem, grosso modo, a vasta zona de influência fenícia que por aí se estabeleceram uns quinze séculos antes, fundando cidades com nomes tipicamente semitas terminados em –ipo, como Bevipo ( Alcácer do Sal ), Colipo (correspondendo mais ou menos a Leiria) e naturalmente Olisipo?
- E, mais à frente, a propósito das regalias oferecidas por Júlio César à cidade mercantil (os Fenícios e os seus descendentes Cartagineses eram, não nos esqueçamos, povos interessados em criar uma rede de cidades/entrepostos comerciais que garantissem os seus interesses mercantis) que tão bem o acolheu (o domínio do estuário do Tejo já não apresentava problemas de maior às legiões romanas, pelo menos desde as campanhas de Décimo Júnio Bruto de 138 a.C.) rebaptizando-a com o seu próprio nome e concedendo-lhe a categoria de municipium civium romanorum, outorgando assim aos seus habitantes o mesmo estatuto jurídico dos cidadãos da mesmíssima Roma, levanta o autor outra pergunta: terá sido da barra do Tejo que Júlio César enviou uma forte esquadra para se assenhorear da faixa costeira ocidental da Península Ibérica, estabelecendo assim apoio naval e logístico que poderiam assegurar o êxito de futuras campanhas militares para o Norte do continente europeu? O autor tem este dado como quase adquirido, tanto assim que, poucos anos depois e regressado a Roma, o grande general romano prepara a conquista definitiva da Gália.
São estas algumas das tentadoras hipóteses que José Sarmento de Matos vai esboçando neste livro que se nos afigura obra que, além do prazer da leitura que nos proporciona, levanta questões que talvez um dia venham a ser esclarecidas mas que, entretanto, dão que pensar. Título em leitura – ainda –, e da qual mais ecos se darão, no final da mesma.
por João Cláudio – Técnico Superior/Bibliotecas Municipais de Oeiras
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