quarta-feira, 3 de outubro de 2007

CAMUS

Ontem foi dia de Grupo de Leitores na BM de Carnaxide. A Peste, de Albert Camus, foi a obra em discussão.

Iniciou-se a sessão com a leitura, em voz alta, da pequena resenha que em todas as sessões é distribuída aos participantes. Desta constava a biografia do autor, a carta escrita por Jean-Paul Sartre um dia após morte de Camus e um estudo sobre a polémica entre Roland Barthes e o autor sobre o romance em questão.

Foi unânime a opinião de estarmos frente a uma obra brilhante, que permite uma leitura a dois níveis: um, mais óbvio, e onde se encontra um paralelismo entre a peste que assola a cidade argelina de Oran e a Segunda Grande Guerra – Camus tem parte activa nesta última, dirigindo o jornal Combat, periódico clandestino da Resistência; e outro, mais denso, em que se explora a dimensão do ser humano e o seu papel de servir a todas as resistências contra todas as tiranias (nas palavras do próprio Camus). A este propósito destaca-se Grand, um pequeno funcionário que se presta à luta não numa dimensão de heroicidade épica mas que, na medida das suas possibilidades, faz o que lhe compete para ajudar no esforço contra a catástrofe. Um símbolo maior – daí o nome? – da dignidade humana. A morte do Padre Paneloux trouxe também algumas achas à fogueira: teria perdido a fé o homem que, num primeiro sermão, fala aos habitantes da cidade em castigo divino? Outras personagens pontuam o enredo, igualmente fascinantes, tais como o narrador, o Dr. Rieux, que cala a sua própria miséria para amparo da desgraça alheia, o misterioso Cottard que arrecada fortuna com o infortúnio dos outros, o jornalista Rambert, preso na cidade por desígnios do acaso, entre outros.

Mais palavras haverá a dizer sobre A Peste, mas ficam para a próxima semana, porque a discussão estava interessante e, com certeza, assim se manterá. Quem sabe se, na sessão que se segue e em vez de falarmos sobre a peste, não a iremos ver?
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