quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Camus e Saramago

Decorreu, ontem, a segunda sessão do Grupo de Leitores de Carnaxide. Após A Peste abordaram-se outros títulos de Albert Camus, nomeadamente O Mito de Sísifo e O Estrangeiro, sendo que neste último se discutiu com particular interesse o julgamento de Meursault em que a acusação destaca o facto de o réu não demonstrar qualquer emoção no funeral da mãe – em detrimento do assassinato de um árabe, razão pela qual estava efectivamente a ser julgado. Um estrangeiro na verdadeira acepção da palavra mas também um "estrangeiro social”, que se recusa aos comportamentos padrão e, por essa razão, é condenado - relegando-se o facto de ter morto um ser humano. O absurdo, algo permanente na obra do autor.

Bastante interessantes foram também as semelhanças encontradas entre A Peste e o Ensaio sobre a Cegueira, de Saramago. Destaca-se a presença da água, no romance português, com a chuva que cai sobre Lisboa e que representa um acto de purificação e, em Camus, o banho de mar de Rieux e Tarrou, já com a epidemia em curva descendente. Outro elemento presente nas duas obras é o fogo, ateado para a fuga do hospício, em Saramago, e relembrado n’A Peste, a propósito de epidemias passadas. Também duas personagens, apesar de continuamente expostas, se livram da enfermidade ao longo de todo o enredo: o narrador, em Camus, e a mulher do médico, em Saramago. Os dois romances acabam por nos demonstrar as consequências sociais de uma catástrofe - seja de ordem natural ou por intervenção humana -, e as diferentes reacções dos seus intervenientes.

Para o próximo mês há mais Nobel: Pearl Buck e A Mãe.

P.S. – Não nos foi possível ver a peste, tal como se suponha no último post. Mas - e infelizmente - qualquer um o pode fazer: consultem a Survivors of the Shoah Visual History Foundation e assistam aos testemunhos de quem, na primeira pessoa, sofreu a maior epidemia do século XX.


Foto de Saramago aqui
Foto de Camus aqui

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