terça-feira, 22 de julho de 2008

Nossas Sugestões - Julho/ Agosto

Título: Selva
Autor: Ferreira de Castro

De quem se fala: José Maria Ferreira de Castro (Oliveira de Azeméis,1898
— Porto, 1974) foi um escritor português, que aos doze anos de idade emigrou para o Brasil, onde viria a publicar o seu primeiro romance Criminoso por ambição, em 1916. Durante quatro anos viveu no seringal Paraíso, em plena selva amazónica, junto à margem do rio Madeira. Depois de partir do seringal Paraíso, viveu em precárias condições, tendo de recorrer a trabalhos como, colar cartazes, embarcadiço em navios do Amazonas etc. Mais tarde, em Portugal, foi redactor do jornal "O Século" e director do jornal "O Diabo". Emigrante, homem do jornalismo, mas sobretudo ficcionista, é hoje em dia, ainda, um dos autores com maior obra traduzida em todo o mundo, podendo-se incluir a sua obra na categoria de literatura universal moderna, precursora do neorealismo, de escrita caracteristicamente identificada com a intervenção social e ideológica. A exemplo da sua ainda grande actualidade pode referir-se a recente adaptação ao cinema, com muito sucesso, da obra A Selva.

O que se diz:
Romance que aproveita a experiência pessoal do autor, quando jovem, numa fazenda brasileira. Nessa fazenda o autor aproveita para denunciar as condições de trabalho e de exploração dos respectivos trabalhadores.

Está dito: «Foi à uma hora da noite a noite densa, quente e húmida de 28 de Outubro de 1914, que parti do seringal onde decorre este livro, lá longe, nas margens escalavradas do Madeira, que nenhuma estrela, então, alumiava.
Nos dois barracões e três cabanas que constituíam os únicos abrigos humanos naquele rasgão da floresta, aberto, como um átrio, à beira do rio, os habitantes eram poucos e quase todos dormiam. Apenas dois adolescentes como eu, sonhando também com os horizontes que sabíamos existirem para além da selva, ao mesmo tempo desejados e temidos, vieram a bordo despedir-se de mim.»

Guimarães & Cª, 295 p. ;





Título:
O Coração dos Homens
Autor: Hugo Gonçalves

De quem se fala: Hugo Gonçalves nasceu em 1976. Fez parte da equipa que lançou a revista Focus e recebeu o Prémio Revelação do Clube Português de Imprensa. Em 2001 saiu de Portugal. Colaborou, entre outras publicações, com a Egoísta, Elle, e Visão. Escreveu sobre Lisboa para o Jornal de Notícias e sobre Nova Iorque para o Diário Económico. O Maior Espectáculo do Mundo é o seu primeiro romance.

O que se diz: Numa cidade sem mulheres, os homens revelam a sua verdadeira natureza. Todas as mulheres são expulsas de uma Cidade-Estado, as suas memórias apagadas. Um grupo de amigos - Ele, Mau e Grande - cresce nesse universo exclusivo de homens em que o pugilismo se tornou no desporto nacional, a força física uma qualidade e as emoções um sinal de fraqueza. Eles atravessam a decadência da Cidade nas suas motos, procurando o perigo e as lutas de rua. Mas um dia enfrentarão o resto do mundo, as mulheres, e terão de confrontar-se com a brutalidade da sua própria natureza. O coração dos Homens vai ao fundo da amizade masculina, fala da contenção dos sentimentos, da solidão, dos impulsos sexuais e do corpo como único instrumento de prazer.

Está dito:
«É a primeira vez que faz chorar uma mulher. O corpo dela quebra com os soluços, as frases são cortadas ao meio. Ele pensa que talvez um beijo, uma derradeira tarde de sexo, possam anestesiar a aflição feminina. Nunca sentiu este desconforto, esta maldade, mesmo quando, num ringue, na rua, infligiu dor a outros homens. Ele gosta desta mulher. Mas terá sempre de considerar a dimensão do mundo e todas as outras mulheres.»

Oficina do livro, 229 p.;


Título:
Sinais de Fogo
Autor: Jorge de Sena

De quem se fala: Jorge (Cândido) de Sena (Lisboa, 1919Califórnia, 1978) foi poeta, crítico, ensaísta, ficcionista, dramaturgo, tradutor e professor universitário português. Licenciado em engenharia civil, dedicou-se à carreira de escritor, actuando como intervencionista político-pedagógico-cultural. A sua obra de ficção mais famosa é o romance autobiográfico Sinais de Fogo, adaptado ao cinema em 1995 por Luís Filipe Rocha. Recebeu o Prémio Internacional de Poesia Etna-Taormina, pelo conjunto da sua obra poética, e foi condecorado com a Ordem do Infante D. Henrique, por serviços prestados à comunidade portuguesa. Recebeu, postumamente, a Grã-Cruz da Ordem de Santiago. Em 1980, foi inaugurado o Jorge de Sena Center for Portuguese Studies, na Universidade da Califórnia em Santa Barbara.

O que se diz: Sinais de fogo, romance publicado postumamente em 1979 e escrito maioritariamente entre 1964 e 1965, constituindo o primeiro volume de um ciclo romancesco intitulado Monte Cativo, planeado mas inconclusivo, retrata as vivências de Jorge, o seu protagonista, desde os seus últimos tempos de liceu, passando pelo início dos seus estudos como estudante universitário, até às férias de Verão que se seguem a esse primeiro ano no ensino superior. É à Figueira da Foz que o jovem se dirige para mais umas semanas de descanso na companhia dos amigos de outras tantas férias.O que começa por ser uma narrativa simples das vivências de vários jovens, das suas aventuras de adolescência, da sua sexualidade, da relação que mantêm com a família e com o mundo transforma-se em algo mais complexo. Estes jovens não sabem nem sonham que este não é um verão igual a tantos outros, que os acontecimentos os vão obrigar a tomar decisões difíceis e que essas decisões e os acontecimentos a que conduzem vão ficar firmemente cravados nas suas memórias.
Foi a primeira e única obra que li de Jorge se Sena. Confesso que fiquei surpreendida pela positiva. Não esperava de um escritor português tão aclamado tanta falta de pudor como a que constatei nesta obra. Mas, mais que isso, foi uma leitura rápida e surpreendente. Considero que é exemplar a interligação entre os personagens; as reflexões que cobrem as páginas desta obra, apesar de, na minha opinião, por vezes demasiado obscuras; o retrato de uma época de crise marcada pelo início da Guerra Civil Espanhola e; a fabulosa aparição da poesia, como acto espontâneo e exteriorização do subconsciente do protagonista.

Está dito: «Quando acordei do que não era um sono, a brancura do dia tomara tons de estanho sujo, e o horizonte marinho estava de uma negrura maciça em que o céu e o mar se destacavam por uma linha prateada. Debrucei-me da balaustrada, e vi que a água ondulava gordurosa e baça, desci para a praia deserta como se fosse já o fim do Verão.»

Asa, 540 p.;


Título: Finita
Autor: Maria Gabriela Llansol

De quem se fala: Maria Gabriela Llansol (1931) é um caso ímpar na ficção contemporânea, de jorrante, inesperada e original criatividade.
A sua forte personalidade e o seu estilo muito próprio afirmaram-se desde 1957, com as narrativas de Os Pregos na Erva, consolidando-se com O Livro das Comunidades, 1978, e com todas as suas obras posteriores, de que salientamos: A Restante Vida, 1978, Um Beijo Dado mais Tarde, 1990, e Lisboaleipzig, 1994 e 1995. Aliando a subjectividade enunciativa a um forte pendor mítico de implicação lírica, que funda numa visão da vida e do mundo de tipo religioso herético, sensualista e naturalista, a sua ficção caracteriza-se por uma hibridez de registos e de convocação, temporal e espacial de entidades, que no entanto assume uma coesão que lhe é dada por uma marca discursiva persistente e inconfundível.

O que se diz: «Finita» é […] a narrativa dos próprios inconfortos da autora, do seu deslumbramento, do desejo que na sua própria vida o poeta e o ladrão façam a obra prometida, de que o seu texto (no caso vertente, «A Restante Vida») seja obra do mútuo e factor deste. […] Se não temesse ser mal compreendido, eu diria que «Finita» é uma espécie de «correio do coração» espinozista: um Mestre Eckhart que tivesse inspirado um Espinoza, tocado pelos fulgores de Hamman. (posfácio, excertos)

Está dito: «… Somos fenómenos atmosféricos:
nuvens sonoras pairando …».

Rolim, 201 p.;




Título: O Lado Selvagem
Autor: Jon Krakauer

De quem se fala: John Krakauer, nasceu em Brookline, Massachusetts. Mudou-se para Corvallis - Oregon, aos dois anos. Competiu no tênis em Corvallis High School e graduou- se em 1972. Em 1972 estudou no Hampshire College, em Massachusetts, e em 1976 recebe seu diploma em Estudos Ambientais. Krakauer, sempre foi um aluno exemplar e amante dos livros. Grande admirador de Truman Capote de quem recebeu forte influência no estilo jornalístico. Em 1977, conhece a jovem, Linda Mariam Moore, com quem se casa em 1980. Em 1983, abandona o trabalho de carpinteiro e pescador para tornar-se escritor. Vive em Seattle, Washington. Vencedor do Prémio do Clube Alpino Americano de literatura sobre montanhismo, foi finalista no Nacional Magazine Award. Krakauer alcançou popularidade escrevendo para a revista Outsider, da qual também é editor. Colabora ainda com várias revista entre elas a National Geogarfic e a GEO. Em 1999 recebeu da American Academy Of Arts And Letters, um Prémio pelo conjunto de sua obra jornalística.

O que se diz: Baseado no caso real de Christopher McCandless, um jovem de vinte e dois anos que, ao terminar a faculdade, doou todo o seu dinheiro a uma instituição de caridade, mudou de identidade e partiu em busca de uma experiência genuína que transcendesse o materialismo do quotidiano. Começando a sua viagem pelo Oeste americano, Christopher dá igualmente início a uma aventura que mais tarde viria a encher as páginas dos jornais e que termina com a sua morte no Alasca. Uma morte misteriosa… Acidental ou propositada? Um livro comovente que cativa o leitor pela forma como é retratada a força indomável de um espírito rebelde e lírico.

Está dito: «O sol nasceu. Enquanto desciam as arribas arborizadas por cima do rio Tanana, Alex entreteve-se a contemplar a grande extensão desabrigada de muskeg (área pantanosa na região de tundra do Alasca) que se alongava para sul. Galien perguntava-se se ele teria sido influenciado por um dos malucos de estado mais abaixo que vinham para norte a fim de reviver as fantasias irreflectidas de Jack London. Há muito que o Alasca constitui uma atracção para sonhadores e excluídos, pessoas que julgam que a grandeza imaculada da Última Fronteira irá resolver todas as dificuldades das suas vidas. Todavia, a floresta é um local implacável que não se compadece com esperanças ou desejos.»

Presença, 224 p.;

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