sexta-feira, 20 de abril de 2007

Poemário - Mariana da Cruz

Vídeo produzido por Mariana da Cruz no âmbito do estágio do Curso Tecnológico Multimédia - especificação Design Multimédia - (Escola Secundária Quinta do Marquês), a decorrer na CMO/Biblioteca Municipal em Oeiras.

Há uma hora, há uma hora certa

«Há uma hora, há uma hora certa
que um milhão de pessoas está a sair para a rua.
Há uma hora, desde as sete e meia horas da manhã
que um milhão de pessoas está a sair para a rua.
Estamos no ano da graça de 1946
em Lisboa, a sair para, o meio da rua.
Saímos? Mas sim, saímos!
Saímos: seres usuais, gente gente! olhos, narinas, bocas,
gente feliz, gente infeliz, um banqueiro, alfaiates, telefonistas,
varinas, caixeiros desempregados,
uns com os outros, uns dentro dos outros
tossicando, sorrindo, abrindo os sobretudos, descendo aos
mictórios para apanhar eléctricos,
gente atrasada em relação ao barco para o Barreiro
que afinal ainda lá estava apitando estridentemente,
gente de luto, normalmente silenciosa
mas obrigada a falar ao vizinho da frente
na plataforma veloz do eléctrico, em marcha,
gente jovial a acompanhar enterros
e uma mãe triste a aceitar dois bolos para a sua menina.
Há uma hora, isto: Lisboa e muito mais.
Humanidade cordial, em suma,
com todas as consequências disso mesmo
e a sair a sair para o meio da rua. (...)»

Há uma hora, há uma hora certa, por Mário Cesariny

A Pastelaria

«Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura
Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter o dinheiro ao lado de ter horas de ócio
Afinal o que importa não é ser novo e galante
- ele há tanta maneira de compor uma estante!
Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente
ao precipício
e cair verticalmente no vício
Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola
Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come
Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!
Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir de tudo
No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra»

A Pastelaria, por Mário Cesariny

6 comentários:

Anónimo disse...

Um grande poema muito bem trabalhado e sentido. De certeza que só com um sorriso na alma foi possível esta realização. Afinal, de que vale ler um poema sem poder tocá-lo.

César Ferreira

Anónimo disse...

Parabéns Mariana! É um gosto ter-te entre nós.
BJokas
Ana AG

Anónimo disse...

Muitos parabéns!

Gostei muito, mas mesmo muito...

Tanto a escolha das imagens como a respectiva sequência estão perfeitas...

Temos que falar com o Rodrigo Leão para fazer este o clip da música :)

Definitivamente tens queda para a área.

Força!

Joana (mana)

Anónimo disse...

Estou entusiasmado - sempre gostei do Cesariny. Agora mais. Nota alta.
Uma nota sobre os créditos finais: quem lê o poema? de quem é a música?
prof. pb

Anónimo disse...

As palavras do Cesariny alvejam-nos mas são tocantes; a música "embrulha" muito bem as palavras e imprime um excelente crescendo emocional. A produção/escolha das imagens, simples e comoventes, é a cereja no cimo deste belo "bolo"! Parabéns Mariana!!!
HBFPS
P.S. Gostei até do tom "patine" (envelhecido...eheheh) do filme.

Anónimo disse...

As palavras do Cesariny alvejam-nos mas são tocantes; a música "embrulha" muito bem as palavras e imprime um excelente crescendo emocional! A produção/escolha das imagens, simples e comoventes (a P/B e com patine...), é a cereja no cimo do TEU bolo!
Parabéns, Mariana!
HBFPS