segunda-feira, 21 de abril de 2008

Mitos e Monstros


Luis Paulo Rebelo, Professor Associado e Sub-Director do Instituto de Tecnologia Química e Biológica (ITQB), foi o convidado da sessão realizada na quinta-feira 10 de Abril do Ciclo de Conversas na Aldeia Global dedicada à Ciência & Tecnologia em Oeiras.
Num ambiente de debate informal, e apesar de reconhecer que os cientistas têm alguma dificuldade em sintetizar e expor os seus trabalhos numa linguagem corrente, o investigador aceitou o desafio de comunicar e divulgar a ciência que vem desenvolvendo no Laboratório de Termodinâmica Molecular do ITQB.
Desmistificar uma área de investigação científica não é tarefa fácil e o líder de um grupo internacional de cientistas veio contar-nos como os líquidos iónicos (e existem múltiplos, de propriedades diferentes), podem ser desenhados de forma a manter determinada fase ou estado. Explica que estes sais são muito idênticos ao nosso sal de cozinha (cristalizado), diferindo deste, apenas, pelas características físicas em que se apresentam.
As possibilidades de aplicação dos sais líquidos “amigos do ambiente” têm sido estudadas num conjunto de áreas transversais, desde as potencialidades alternativas na indústria química e extractiva, ao recurso no tratamento de afluentes através da extracção de metais pesados em suspensão (como o mercúrio ou o sulfato de cobre), ou a utilizações no domínio da astronomia (face a amplitudes térmicas elevadas podem manter o seu estado físico) e da biofarmacêutica. Segundo Luís Rebelo, os cientistas possuem preocupações ecológicas, e, muito embora não existam soluções perfeitas, a adopção de processos menos poluentes é uma preocupação tida em conta e que exige normas e boas práticas laboratoriais aplicadas com bom senso.
Plymouth with a Rainbow (1825) - Joseph Mallord William Turner

A propósito da possibilidade de desenhar o liquido iónico para o fim a que se pretende foi abordada a relação entre o mundo da ciência e a arte. Neste contexto, alude ao seu mentor de doutoramento, o Prof. Jorge Calado, pessoa multifacetada que, para além de cientista (precursor no estudo da termodinâmica molecular em Portugal), é crítico cultural especializado em fotografia e ópera. Na analogia entre arte e ciência recorda uma visita à antiga Tate Gallery em Londres, a partir da qual conheceu a obra do impressionista William Turner e a semelhança encontrada entre o ponto crítico de uma substância liquida sujeita a altas pressões e as suas aguarelas e óleos criadas com o recurso a pigmentos novos produzidos pela química. Compara também as reproduções de formas cúbicas e de óptica distorcida pintadas por Vasarely (Victor) que, na sua opinião, mais não são do que a representação de cristais com defeitos.
Conclui-se, com especial ênfase, que existe uma delicadeza, subtileza e criatividade que é necessária para fazer a ponte entre arte e ciência, pois, como a ciência, a produção artística também se alimenta da curiosidade e da necessidade de inovação.
O ITQB desenvolve múltiplos projectos no domínio da Arte e da Ciência, exemplo do Programa Rede de Residências: Experimentação/Ciência/Tecnologia, uma colaboração entre a Ciência Viva e o Instituto das Artes (IA) /Ministério da Cultura. Através deste programa foi definida uma rede de entidades científicas destinada ao acolhimento de artistas, onde desenvolvem projectos artísticos de carácter experimental com base nas investigações que estão a ser levadas a cabo na altura. Recentemente a pintora e cientista Patrícia Noronha utilizou numa residência artística do ITQB, instrumentos aplicados em ciência (concretamente em microbiologia) em substituição das tradicionais telas e pincéis. Ao nível da imagem e vídeo, Anabela Costa realizou uma curta metragem no ITQB intitulada LIQST liquid state, com a qual participou no Fantasporto e irá a Cannes.
A Conversa na Aldeia Global Mitos e Monstros atingiu, uma vez mais, os seus objectivos de criar um espaço de encontro e de discussão alusivo aos projectos, investigadores e instituições de investigação e desenvolvimento (I&D) com actuação em Oeiras.
O ciclo de conversas continua a 15 de Maio com a participação de Américo Thomati, Presidente da Comissão Executiva do Taguspark – Parque de Ciência e Tecnologia. Contamos consigo!

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