SHOAH
E se um pai, uma mãe, um irmão, um amigo nosso pactuasse com um assassínio? E se, em lugar de um, fossem vários? Centenas, milhares, milhões de vítimas, seleccionadas criteriosamente em função da religião professada, etnia, orientação sexual, malformação física, opção política? Haveria lugar ao perdão, à compreensão, ao amparo? Bernhard Schlink aborda o tema na obra O Leitor, que esteve sob o olhar do Grupo de Leitores de Algés.
Michael é um adolescente na Alemanha dos anos sessenta e apaixona-se por Hanna, de 35 anos. Desta relação de ternura e afecto um ritual se destaca: o banho conjunto, a subsequente leitura em voz alta – d’ele para ela – e, por fim, a união dos corpos. Um dia Hanna desaparece sem deixar rasto. Anos mais tarde o protagonista – já na pele de estudante de Direito – encontrá-la-á em tribunal, a ser julgada por crimes de guerra por pertencer às Waffen SS, destacada em Auschwitz. Do desgosto de Michael não fica apenas um amor mal resolvido, que afectará toda a sua vida; fica, também, a vergonha, a inquietação, a intranquilidade de espírito de um jovem que, como tantos outros, sobre si viu arcar a responsabilidade de julgar a geração anterior pelo mais hediondo dos crimes: o Holocausto. E esta é, indubitavelmente, a grande questão deste romance: como lida a geração do autor (e as posteriores) com os crimes cometidos e/ou tolerados pelos seus pais? Outro tema, igualmente relevante, é chamado à colação: até que ponto a iliteracia nos condiciona (ou até que ponto alguém se condiciona em função da iliteracia - leia-se vergonha da sua…)?
As opiniões divergiram, no Grupo. Da importância dos assuntos não houve desacordo, mas nem todos estiveram em sintonia quanto à abordagem: houve quem a achasse demasiado fugaz, quem apreciasse mais os episódios de paixão em detrimento dos de reflexão histórica e quem preferisse precisamente o inverso, houve quem se desiludisse com o final e quem gostasse da obra toda. Certo, certo, é que ninguém lhe ficou indiferente. Com o desenrolar da discussão outro tema surgiu: a nossa própria História recente e o ensino desse mesmo período nas salas de aulas. De outros livros se falou, como Austerlitz, de W. G. Sebald, ou Estrelas da Memória, de Pierre Guéno e Jérome Pecnard e coordenação de Esther Mucznik.
A pretexto d’O Leitor a segunda sessão foi aproveitada para visionar um documentário inédito em Portugal: Some who lived, incluído no DVD Broken Silence, regista relatos de judeus durante a II Grande Guerra e as suas amargas recordações (nomeadamente a forma como foram tratados, não só pelo militares, mas também pela população civil). Acabamos a falar de acontecimentos semelhantes, mas desta feita com uma consciência redobrada: a título de exemplo, os massacres no Ruanda foram em 1994. Morreram 800.000 pessoas em três meses e o mundo assistiu, impávido e sereno. O Holocausto está assim tão distante?
Michael é um adolescente na Alemanha dos anos sessenta e apaixona-se por Hanna, de 35 anos. Desta relação de ternura e afecto um ritual se destaca: o banho conjunto, a subsequente leitura em voz alta – d’ele para ela – e, por fim, a união dos corpos. Um dia Hanna desaparece sem deixar rasto. Anos mais tarde o protagonista – já na pele de estudante de Direito – encontrá-la-á em tribunal, a ser julgada por crimes de guerra por pertencer às Waffen SS, destacada em Auschwitz. Do desgosto de Michael não fica apenas um amor mal resolvido, que afectará toda a sua vida; fica, também, a vergonha, a inquietação, a intranquilidade de espírito de um jovem que, como tantos outros, sobre si viu arcar a responsabilidade de julgar a geração anterior pelo mais hediondo dos crimes: o Holocausto. E esta é, indubitavelmente, a grande questão deste romance: como lida a geração do autor (e as posteriores) com os crimes cometidos e/ou tolerados pelos seus pais? Outro tema, igualmente relevante, é chamado à colação: até que ponto a iliteracia nos condiciona (ou até que ponto alguém se condiciona em função da iliteracia - leia-se vergonha da sua…)?
As opiniões divergiram, no Grupo. Da importância dos assuntos não houve desacordo, mas nem todos estiveram em sintonia quanto à abordagem: houve quem a achasse demasiado fugaz, quem apreciasse mais os episódios de paixão em detrimento dos de reflexão histórica e quem preferisse precisamente o inverso, houve quem se desiludisse com o final e quem gostasse da obra toda. Certo, certo, é que ninguém lhe ficou indiferente. Com o desenrolar da discussão outro tema surgiu: a nossa própria História recente e o ensino desse mesmo período nas salas de aulas. De outros livros se falou, como Austerlitz, de W. G. Sebald, ou Estrelas da Memória, de Pierre Guéno e Jérome Pecnard e coordenação de Esther Mucznik.
A pretexto d’O Leitor a segunda sessão foi aproveitada para visionar um documentário inédito em Portugal: Some who lived, incluído no DVD Broken Silence, regista relatos de judeus durante a II Grande Guerra e as suas amargas recordações (nomeadamente a forma como foram tratados, não só pelo militares, mas também pela população civil). Acabamos a falar de acontecimentos semelhantes, mas desta feita com uma consciência redobrada: a título de exemplo, os massacres no Ruanda foram em 1994. Morreram 800.000 pessoas em três meses e o mundo assistiu, impávido e sereno. O Holocausto está assim tão distante?
*SHOAH - Termo em hebreu para Holocausto
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