As nossas sugestões
Título: O cavalo de Sol
Autor: Teolinda Gersão
De quem se fala: Teolinda Gersão (Teolinda Maria Sanches de Castilho Gersão Gomes Moreno ) nasceu em Coimbra, a 30 de Janeiro de 1940. Frequentou, em Coimbra, a escola primária e o Liceu Nacional Infanta D. Maria. Frequentou até ao 6º ano o Curso Complementar de Piano do Conservatório. Optou pelo curso de Filologia Germânica, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Igualmente em Coimbra participou em algumas actividades académicas, nomeadamente no Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC) e na revista académica Via Latina, na qual fez parte do corpo redactorial. Em 1961, efectuou a matrícula na Philosophische Fakultät da Universidade de Tübingen, viabilizada pela atribuição da bolsa de estudo do DAAD (Deutscher Akademischer Austauschdienst). No ano lectivo de 1962-1963, licenciou-se em Filologia Germânica na Universidade de Coimbra com a dissertação "Hamlet como Figura Trágica". Já em Berlim foi, em 1963-1964, leitora da Editora alemã Paul Herbig, para livros espanhóis, portugueses e sul-americanos. Acompanhando o marido, residiu em São Paulo, Brasil em 1976 e 1977. Teolinda Gersão é membro da Associação Portuguesa de Escritores (APE), da Associação Internacional dos Críticos Literários (AICL), do Pen Club, da Associação Portuguesa de Estudos Germanísticos e da Associação Portuguesa de Literatura Comparada.
O que se diz: Este livro caracteriza-se como tendo uma forte carga erótica; o espaço, o tempo e as relações entre as personagens estão bem definidos e delimitados. O romance está dividido em quatro partes: o «Passo», o «Trote», o «Galope» e o «Salto», que representam quatro ritmos; cada parte do romance é mais curta que a anterior exprimindo assim o acelerar do movimento do cavalo e também da narrativa; o andar do cavalo condiciona a evolução da acção e o desenvolvimento da personagem Vitória, que aprende a viver à medida que aprende a cavalgar. A acção desenvolve-se em torno de Vitória, que exprime a força da Natureza, o instinto, o impulso e Jerónimo que procura refrear os impulsos instintivos de Vitória. A mulher simboliza a imaginação, a criatividade, o desejo de explorar o real e a vontade incessante de desafiar e de viver; o homem, por outro lado, representa a convenção, a rigidez, a repressão e a necessidade de limitar o real.
Está dito: A tal ponto se habituara a olhá-la que não deixava de vê-la mesmo quando, como agora, ela estava ausente, disse Jerónimo acendendo um cigarro e inclinando-se para trás na cadeira. Calculava exactamente o local onde ela seguiria agora – antes de chegar aos castanheiros, e longe ainda do começo da mata . Podia olhá-la, ainda que sem vê-la, daquele local distante. Com os olhos da memória e do espírito, que eram também os olhos fulgurantes do amor.
Publicações Dom Quixote, p. 214
Título: Crime e castigo
Autor: Fiodor Dostoievski
De quem se fala: Fiódor Dostoiévski ( Moscovo, 30.10.1821 - S.Petersburgo, 28.01.1881) foi um dos grandes percursores, como Emily Brontë, da mais moderna forma do romance, exemplificada em Marcel Proust, James Joyce, Virgina Woolf entre outros. Filho de um médico militar, aos 15 anos é enviado para a Escola Militar de Engenharia. de S. Petersburgo. Aí lhe desperta a vocação literária, ao entrar em contacto com outros escritores russos e com a obra de Byron, Vítor Hugo e Shakespeare. Terminado o curso de engenharia, dedica-se a fazer traduções para ganhar a vida e estreia-se em 1846 com o seu primeiro romance, Gente Pobre. Após mais umas tentavivas literárias, foi condenado à morte em 1849, por implicação numa suspeita conjura revolucionária. No entanto, a pena foi-lhe comutada para trabalhos forçados na Sibéria. Durante os seus anos de degredo teve uma vida interior de carácter místico, por ter sido forçado a conviver com a dura realidade russa, o que também o levou a familiarizar-se com as profundezas insuspeitas da alma do povo russo. Amnistiado em 1855, reassumiu a actividade literária e em 1866, com Crime e Castigo, marca a ruptura com os liberais e radicais a que tinha sido conotado. As obras de Dostoiévski atingem um relevo máximo pela análise psicológica, sobretudo das condições mórbidas, e pela completa identificação imaginativa do autor com as degradadas personagens a que deu vida, não tendo, por esse prisma, rival na literatura mundial. A exactidão e valor científico dos seus retratos é atestada pelos grandes criminalistas russos. Neste grande novelista, o desejo de sofrer traz como consequência a busca e a aceitação do castigo e a concepção da pena como redentora por meio da dor.
O que já se fez:
Está dito: Por fim, depois de um dia muito agitado e cheio de visões loucas, de sonhos alegres e de lágrimas, Pulquéira Alexandrovna foi acometida de uma alta temperatura. Morria quinze depois. As palavras que se lhe ouviram durante o delírio deram a perceber aos seus próximos ela sabia muito mais a respeito do filho do que podia supor-se.
Arcádia, p.752
Título: Orlando
Autor: Virginia Woolf
De quem se fala: Virginia Woolf nasceu em Londres em 1882, tendo crescido num meio frequentado por artistas, escritores e académicos. Em 1915 publicou o seu primeiro romance, A Viagem, e em 1917 fundou com o marido a Hogarth Press, que deu à estampa, entre outras, obras de T. S. Eliot e Katherine Mansfield. A par de uma intensa actividade literária que incluiu ficção, crítica, ensaio e biografia, Virginia Woolf sofreu várias depressões ao longo da vida, que culminaram no seu suicídio em Março de 1941.
O que se já se fez:
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Está dito: “Imerso por muito tempo em profundos pensamentos sobre o valor da obscuridade e as delícias de se ser uma onda sem nome, que regressa ao vasto corpo do mar; pensando que a obscuridade poupa o espírito às ânsias da inveja e do despeito; faz correr nas veias as águas livres da generosidade e do desprendimento; e permite dar e receber sem agradecimentos nem louvores; como – suponha ele – teriam feito todos os grandes poetas…”
Orlando, 241
Título: O Homem sem qualidades
Autor: Robert Musil
De quem se fala: Robert Musil (Klagenfurt, 6 de novembro de 1880 — Genebra, 15 de abril de 1942) foi um escritor austríaco, um dos mais importantes romancistas modernos.Ao lado de Franz Kafka, Marcel Proust e James Joyce forma o grupo dos grandes prosadores do século XX. Da sua obra destaca-se o monumental O Homem sem Qualidades, um anti-romance ou um não-romance que é acima de tudo uma grande reflexão sobre a época de Musil.
O que se diz: Esta é uma obra singular e única no panorama da ficção do século XX. Mais do que um romance, O Homem sem Qualidades é o maior projecto romanesco, deliberada e quase necessariamente inconcluso e inconclusivo, da literatura do século passado. Um rio sem limites nem margens, que não desagua em nenhum mar conhecido, objecto inclassificável, para lá do "literário" e da ficção.No momento da morte inesperada de Musil em 15 de Abril de 1942, no exílio de Genebra, O Homem sem Qualidades é verdadeiramente o "livro por vir", aquele cuja essência - no seu protagonista acentrado, no processo da sua génese, no cerne do seu pensamento - é a de um laboratório de possibilidades que o transformarão na obra aberta por excelência e na "tarefa criadora [mais] desmedida" da história da literatura moderna. O Homem sem Qualidades será, durante mais de duas décadas, a obra em processo de criação e transformação que se autonomiza e se impõe de forma obsessiva e implacável ao próprio criador, aprendiz de feiticeiro que a controla cada vez menos à medida que ela se vai transformando numa rede rizomática de possibilidades de crescimento e de perspectivas de finalização sempre adiada, que parece querer reflectir o próprio feixe aleatório de possibilidades que é aquilo a que chamamos "realidade". Se a ironia é neste livro, como diz Blanchot, "um dom poético e um princípio de método" que modula, não apenas a palavra mas também a própria composição romanesca, na oposição contrapontística permanente e irresolvida entre "a exactidão e a alma", a reflexão e os sentimentos, o indivíduo em busca de si e o mundo dos factos (nas vésperas da Primeira Grande Guerra), essa mesma ironia haveria de determinar todo o acidentado e contraditório processo de génese e de publicação deste objecto literário esquivo que, ao contrario do que frequentemente se tem dito, será mais um não-romance do que um anti-romance.
Está dito: Walter e ele tinham sido jovens naquele período hoje esquecido que seguiu de perto a última mudança de século, quando muita gente imaginava que também o século era jovem. Aquele que acabavam de enterrar não fora particularmente brilhante na sua segunda metade. Mostrara-se hábil no domínio da técnica, do comércio e da investigação, mas fora desses fulcros de energia, fora calmo e mentiroso como as águas mortas.
Livros do Brasil, 493
Título: O Vicê-Consul
Autor: Marguerite Duas
Autor: Marguerite Duas
De quem se fala: Nasceu em 1914, na Indochina, onde passou a infância e a adolescência, ficando profundamente marcada pela paisagem e pela vida da antiga colónia francesa. Aos dezoito anos foi para Pais, onde estudou Direito e Matemática. Durante a guerra tomou parte na Resistência e publicou os seus primeiros livros, Os Insolentes (1943) e Vida Tranquila (1944). Militou contra a guerra da Argélia e, paralelamente, publicou as suas primeiras peças teatrais. A partir de 1959 começou a escrever também argumentos para cinema, dos quais, Hiroshima Meu Amor, é sem dúvida o mais conhecido.
O que se diz: “Ela caminha, escreve Peter Morgan”.
Assim começa O Vice-Cônsul: com a inserção, no corpo desta história, de uma outra história – a da mendiga – que, através de uma aparente diferença e autonomia, esconde a função especular que as une.
Na longa marcha que empreende entre Battambang – terra natal – e Calcutá – onde fica – a mendiga perde progressivamente toda a memória e identidade, tornando-se vacuidade pura, uma morta viva: “a morte numa vida em curso”.
E de todo o seu passado perdido, esquecido, resta-lhe uma palavra – Battambang – e a melodia infantil que ela canta.
Do mesmo modo na história que lhe serve de moldura Anne-Marie Stretter e o vice-cônsul de Lahore, executando percursos similares ao da mendiga, sofrem igualmente ao longo deles uma mesma perda de memória e de identidade.
E, tal como a mendiga, do seu passado perdido, o vice-cônsul guardará apenas uma melodia que assobia: Indiana’s Song: e Anne-Marie Stretter a sua música de Veneza – terra natal -, que faz ouvir ao piano nas noites de Calcutá.
Na longa marcha que empreende entre Battambang – terra natal – e Calcutá – onde fica – a mendiga perde progressivamente toda a memória e identidade, tornando-se vacuidade pura, uma morta viva: “a morte numa vida em curso”.
E de todo o seu passado perdido, esquecido, resta-lhe uma palavra – Battambang – e a melodia infantil que ela canta.
Do mesmo modo na história que lhe serve de moldura Anne-Marie Stretter e o vice-cônsul de Lahore, executando percursos similares ao da mendiga, sofrem igualmente ao longo deles uma mesma perda de memória e de identidade.
E, tal como a mendiga, do seu passado perdido, o vice-cônsul guardará apenas uma melodia que assobia: Indiana’s Song: e Anne-Marie Stretter a sua música de Veneza – terra natal -, que faz ouvir ao piano nas noites de Calcutá.
Está dito: Não há nada a fazer. A criança não bebe. O leite desliza sobre a criança, mas não entra. O que resta de vida não serve senão para recusar continuar a viver. Mudança. A senhora pousa a garrafa e olha atentamente a criança que dorme. Os meninos brancos continuam a esperar e a calar-se; são agora três a ficar com ela.
Difel, p.209
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