quinta-feira, 22 de junho de 2006

José Saramago, a voz do desassossego

No passado dia 31 de Maio realizou-se mais uma sessão do projecto Café com Letras. A Biblioteca Municipal de Oeiras recebeu, na sua Sala de Leitura, o escritor José Saramago.
Como seria de esperar e perante uma assistência numerosa, a conversa fluiu de forma familiar, calorosa e participativa… Como se de um regresso a casa se tratasse… A casa onde habitam os livros!
Por isso mesmo o escritor não se coibiu, como sempre, de proferir afirmações contundentes e assertivas. Na sua opinião “o estímulo à leitura afirma-se, assim, como um voluntarismo inútil, já que ler sempre foi e será coisa de uma minoria”. O mesmo se poderá dizer em relação ao Plano Nacional de Leitura.
Contudo, as suas palavras que, como já é habitual, acordam em nós uma espécie de consciência cívica universal, relembraram a importância da língua e, por isso, da leitura e dos livros como instrumento do saber e do conhecimento e a sua função na construção da memória colectiva.
Para tal é necessário repensar o significado de conceitos como “instrução” e “educação” e, naturalmente, reflectir de forma mais profunda e rigorosa, o papel dos diversos mediadores do saber e da leitura, nomeadamente, aquele que cabe às escolas e aos professores num país onde tais instituições não são dignificadas.
É certo que o mundo está cheio de ruído… Um ruído ensurdecedor que, frequentemente, aniquila o verdadeiro sentido das palavras e que, irremediavelmente, nos distrai.
Mas o objectivo do nosso trabalho é recuperar a verdadeira voz dos livros e dos autores… Dar a conhecer, afinal, o grande legado da humanidade. Procuramos, por isso, reiterar apenas o que o próprio José Saramago escreveu numa das suas crónicas no Diário de Lisboa sobre Livros, Leitores e Leituras:
“O mal pior que pode acontecer a uma Biblioteca é transformar-se num depósito de livros. Sem uma actividade paralela estimulante, o indispensável sossego das salas de leitura cobre uma dormência rotineira que encontra o seu prémio precisamente na ausência de sobressaltos e dinamismo.”[1]


[1] SARAMAGO, José. Os Apontamentos. 2ª ed. Lisboa: Editorial Caminho, 1990. p. 78

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