quinta-feira, 21 de setembro de 2017

As nossas sugestões...azul

As nossas sugestões: leia um livro cuja capa seja azul
A professora Mann é uma mulher de trinta e tal anos que vive sozinha com os seus dois filhos, ensina Geografia num liceu nocturno e está divorciada de um homem que vive num país turbulento - Israel. Mais dos que sentir ou pensar, prefere observar o mundo na qualidade de testemunha, fragmentando-o em detalhes de maneira incisiva, implacáve, muitas vezes mordaz. Viajante impenitente - como o fora anos antes, de mochila às costas, percorrendo o mundo sozinha, vivendo a espontaneidade, o exotismo, deitando-se com desconhecidos-, escreve a sua passagem pela vida «como se tudo se tratasse  de uma longa viagem que há que registar» repleta de aventuras, juventude, amor e sexo, acidentes e atentados. O passado e o presente, e o mundo exterior e o interior, interagem e dão lugar a uma grande imprevibilidade. A passageira é um romance diferente e cativante. Num registo coloquial, a autora mostra uma realidade em que o quotidiano é permanentemente comovido pelo insólito, pela diferença, levando-nos por caminhos pouco trilhados, no termo dos quais há sempre uma reviravolta que surpreende o leitor, confundindo-o e sugerindo um novo rumo para a imaginação.
O enredo da bolsa e da vida, o mais recente romance de Eduardo Mendoza, protagonizado pelo célebre detetive louco d’O mistério da cripta assombrada e O labirinto das azeitonas, é uma sátira genial sobre a Europa contemporânea. O detetive sem nome regressa à ação em tempos de crise e, ajudado por uma trupe improvável, que inclui uma acordeonista de rua, um africano albino e um vigarista, entre outros, é chamado a impedir um ataque terrorista envolvendo Angela Merkel.
Um livro muito bem escrito sobre três figuras importantes: Kafka, Pessoa e Borges. Que linhas unem um imigrante que lava vidros num dos primeiros arranha-céus de Nova Iorque a um rapaz misantropo que chega a Lisboa num navio e a uma criança que inventa coisas que depois acontecem? Muitas. Entre elas, as linhas que atravessam os livros. Em 1910, a passagem de dois cometas pela Terra semeou uma onda de pânico. Em todo o mundo, pessoas enlouqueceram, suicidaram-se, crucificaram-se, ou simplesmente aguardaram, caladas e vencidas, aquilo que acreditavam ser o fim do mundo. Nos dias em que o céu pegou fogo, estavam vivos os protagonistas deste romance – três homens demasiado sensíveis e inteligentes para poderem viver uma vida normal, com mais dentro de si do que podiam carregar. Apesar de separados por milhares de quilómetros, as suas vidas revelam curiosas afinidades e estão marcadas, de forma decisiva, pelo ambiente em que cresceram e pelos lugares, nem sempre reais, onde se fizeram homens. Mas, enquanto os seus contemporâneos se deixaram atravessar pela visão trágica dos cometas, estes foram tocados pelo génio e condenados, por isso, a transformar o mundo. Cem anos depois, ainda não esquecemos nenhum deles. Escrito numa linguagem bela e poderosa, que é a melhor homenagem que se pode fazer à literatura, "No Meu Peito não Cabem Pássaros" é um romance de estreia invulgar e fulgurante sobre as circunstâncias, quase sempre dramáticas, que influenciam o nascimento de um autor e a construção das suas personagens.

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