"A noite nunca chega a ser tão escura e longa que os homens não depositem a sua esperança no distante nascer do dia"
Em Fevereiro o Grupo de Leitores da Biblioteca Municipal de Oeiras andou pelas terras frias da Islândia através da obra de Halldór Laxness "Gente Independente".
Publicado pela primeira vez em 1946, este livro conta a história de Bjartur, um homem que é por muitos rotulado como obcecado por ovelhas. No entanto, o nosso Grupo achou que este homem ,que após ter sido "escravo" durante mais de 15 anos consegue comprar a crédito um rebanho e um quinta, esconde muito mais dimensões por baixo daquele aspecto rude.
José Riço Direitinho num artigo sobre a obra de Laxness faz uma excelente caracterização desta personagem que apresenta diversas facetas: "Bjartur é uma das personagens mais inesquecíveis e mais fascinantes da história da literatura do último século: heróico, brutal, poético, teimoso, cínico e infantil. É heróico na sua luta contra os fantasmas de um “passado de mil anos” e contra uma natureza demasiado hostil, que sucessivamente o vão impedindo de sair da pobreza; é brutal porque se preocupa mais com o bem-estar das ovelhas do que com o da sua própria família; é poético como um bardo viking, ao compor poemas no tradicional estilo islandês das complexas rimur, e é com essa poesia que acaba por salvar a sua própria vida num dos episódios mais oníricos e de maior tensão dramática de todo o romance; é teimoso na obsessão pela sua independência, mesmo quando lhe morrem a primeira e a segunda mulher e quase todos os anos tem que carregar às costas o caixão de um filho recém-nascido; cínico ao defender a primeira Guerra Mundial para que o valor da carne e da lã continue a subir; e é infantil na maneira como resolve o que parece ser o centro de todo o romance, o conflito entre Bjartur e a filha, Ásta Sóllilja, que ele anos antes expulsara de casa, ao socorrer-se de um convite de uma criança que vê por acaso a brincar na rua."
Alguém disse que "Gente Independente" era um tratado enfadonho e demasiado exaustivo sobre a Islândia, demasiado centrado nas ovelhas, vacas e animais afins. Nada mais redutor: por detrás de uma aparente descrição da vida rural, das descrições da vida banal do quotidiano, apresenta-se um povo e uma cultura que caracteriza a história da Islândia no início do séc. XX.
O Grupo sentiu e deixou-se tocar pelas dificeis relações que se criam entre as personagens e não ficou indiferente aos episódios marcantes entre pai-filha, marido-mulher. pai-filhos. e entre vizinhos. Que "gente" é esta e que sentimentos nos transmitem? Que "gente" é esta que apesar de não ter qualquer escolaridade sabe de cor as complexas sagas e rimas? Que espírito "independente" é este que consegue sobreviver num meio natural amplamente hostil? Que dizer de um país que apenas se torna independente em 1944 e que apesar e ter poucos recursos naturais e uma economia baseada na pastorícia, alcança o estatuto de país mais desenvolvido da OCDE?
O Grupo também não deixou passar em branco todas as referências às Sagas islandesas de origem medieval e onde claramente o autor se inspirou não só no conteúdo, mas também na utilização dos próprios recursos estilísticos: frases longas, narração entre o presente e o passado e utilização entre o discurso directo e o indirecto.
Isto é o que nos conta o escritor islandês, Prémio Nobel da Literatura, Halldór Laxness, neste romance que foi publicado em Portugal, 72 anos depois da edição original.
José Riço Direitinho num artigo sobre a obra de Laxness faz uma excelente caracterização desta personagem que apresenta diversas facetas: "Bjartur é uma das personagens mais inesquecíveis e mais fascinantes da história da literatura do último século: heróico, brutal, poético, teimoso, cínico e infantil. É heróico na sua luta contra os fantasmas de um “passado de mil anos” e contra uma natureza demasiado hostil, que sucessivamente o vão impedindo de sair da pobreza; é brutal porque se preocupa mais com o bem-estar das ovelhas do que com o da sua própria família; é poético como um bardo viking, ao compor poemas no tradicional estilo islandês das complexas rimur, e é com essa poesia que acaba por salvar a sua própria vida num dos episódios mais oníricos e de maior tensão dramática de todo o romance; é teimoso na obsessão pela sua independência, mesmo quando lhe morrem a primeira e a segunda mulher e quase todos os anos tem que carregar às costas o caixão de um filho recém-nascido; cínico ao defender a primeira Guerra Mundial para que o valor da carne e da lã continue a subir; e é infantil na maneira como resolve o que parece ser o centro de todo o romance, o conflito entre Bjartur e a filha, Ásta Sóllilja, que ele anos antes expulsara de casa, ao socorrer-se de um convite de uma criança que vê por acaso a brincar na rua."
Alguém disse que "Gente Independente" era um tratado enfadonho e demasiado exaustivo sobre a Islândia, demasiado centrado nas ovelhas, vacas e animais afins. Nada mais redutor: por detrás de uma aparente descrição da vida rural, das descrições da vida banal do quotidiano, apresenta-se um povo e uma cultura que caracteriza a história da Islândia no início do séc. XX.
O Grupo sentiu e deixou-se tocar pelas dificeis relações que se criam entre as personagens e não ficou indiferente aos episódios marcantes entre pai-filha, marido-mulher. pai-filhos. e entre vizinhos. Que "gente" é esta e que sentimentos nos transmitem? Que "gente" é esta que apesar de não ter qualquer escolaridade sabe de cor as complexas sagas e rimas? Que espírito "independente" é este que consegue sobreviver num meio natural amplamente hostil? Que dizer de um país que apenas se torna independente em 1944 e que apesar e ter poucos recursos naturais e uma economia baseada na pastorícia, alcança o estatuto de país mais desenvolvido da OCDE?
O Grupo também não deixou passar em branco todas as referências às Sagas islandesas de origem medieval e onde claramente o autor se inspirou não só no conteúdo, mas também na utilização dos próprios recursos estilísticos: frases longas, narração entre o presente e o passado e utilização entre o discurso directo e o indirecto.
Isto é o que nos conta o escritor islandês, Prémio Nobel da Literatura, Halldór Laxness, neste romance que foi publicado em Portugal, 72 anos depois da edição original.
Img: travelpeach
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