"A noite nunca chega a ser tão escura e longa que os homens não depositem a sua esperança no distante nascer do dia"

José Riço Direitinho num artigo sobre a obra de Laxness faz uma excelente caracterização desta personagem que apresenta diversas facetas: "Bjartur é uma das personagens mais inesquecíveis e mais fascinantes da história da literatura do último século: heróico, brutal, poético, teimoso, cínico e infantil. É heróico na sua luta contra os fantasmas de um “passado de mil anos” e contra uma natureza demasiado hostil, que sucessivamente o vão impedindo de sair da pobreza; é brutal porque se preocupa mais com o bem-estar das ovelhas do que com o da sua própria família; é poético como um bardo viking, ao compor poemas no tradicional estilo islandês das complexas rimur, e é com essa poesia que acaba por salvar a sua própria vida num dos episódios mais oníricos e de maior tensão dramática de todo o romance; é teimoso na obsessão pela sua independência, mesmo quando lhe morrem a primeira e a segunda mulher e quase todos os anos tem que carregar às costas o caixão de um filho recém-nascido; cínico ao defender a primeira Guerra Mundial para que o valor da carne e da lã continue a subir; e é infantil na maneira como resolve o que parece ser o centro de todo o romance, o conflito entre Bjartur e a filha, Ásta Sóllilja, que ele anos antes expulsara de casa, ao socorrer-se de um convite de uma criança que vê por acaso a brincar na rua."
Alguém disse que "Gente Independente" era um tratado enfadonho e demasiado exaustivo sobre a Islândia, demasiado centrado nas ovelhas, vacas e animais afins. Nada mais redutor: por detrás de uma aparente descrição da vida rural, das descrições da vida banal do quotidiano, apresenta-se um povo e uma cultura que caracteriza a história da Islândia no início do séc. XX.
O Grupo sentiu e deixou-se tocar pelas dificeis relações que se criam entre as personagens e não ficou indiferente aos episódios marcantes entre pai-filha, marido-mulher. pai-filhos. e entre vizinhos. Que "gente" é esta e que sentimentos nos transmitem? Que "gente" é esta que apesar de não ter qualquer escolaridade sabe de cor as complexas sagas e rimas? Que espírito "independente" é este que consegue sobreviver num meio natural amplamente hostil? Que dizer de um país que apenas se torna independente em 1944 e que apesar e ter poucos recursos naturais e uma economia baseada na pastorícia, alcança o estatuto de país mais desenvolvido da OCDE?
O Grupo também não deixou passar em branco todas as referências às Sagas islandesas de origem medieval e onde claramente o autor se inspirou não só no conteúdo, mas também na utilização dos próprios recursos estilísticos: frases longas, narração entre o presente e o passado e utilização entre o discurso directo e o indirecto.
Isto é o que nos conta o escritor islandês, Prémio Nobel da Literatura, Halldór Laxness, neste romance que foi publicado em Portugal, 72 anos depois da edição original.