quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

UM LIVRO NOVO

E se de uma troca de palavras surgisse um livro novo? Um livro que são todas as opiniões sobre uma só obra, as visões, os anseios, os desagrados e inquietações, as surpresas pelas ideias uns dos outros? Se novos amores surgissem, implacáveis, outros não, amainassem a sua vertigem e ficassem, desiludidos, embasbacados, a pensarem em perspectivas mais frias, mais sóbrias – ou mais desapaixonadas – que outros olhos vêm e dão às coisas? Ou pelo contrário, que se acicatassem admirações, transformando-as em elevações poéticas deste ou daquele, ou disto ou daquilo?

É assim cada Grupo de Leitores em Carnaxide. Justifica-se o emprego de maiúsculas, mesmo tratando-se de substantivo masculino em meio de frase. Porquê? Pelo entusiasmo, pelo gosto pela leitura, pela informalidade na transmissão do conhecimento, assim, sem mais, dar por dar. Estranho hábito, neste vigésimo primeiro século. E as pessoas, mesmo sem se conhecerem, até falam umas com as outras. Fantástico!

À frente – se é que de à frente se pode falar, será mais ao lado – estamos dois: a Gabriela e eu. Desde a primeira sessão que o mote foi dado: não há dirigismo, não há líder, há participação. Interessada. Um-dó-li-tá, quem está livre, livre está. Prenderam-se todos, não vão lá ver? À lista apresentada retiraram títulos, acrescentaram outros, deram ideias de discussão, este mês até já houve biscoitos e sumos, que isto de falar de barriga vazia à hora de jantar é mau princípio – se bem que o autor clama, para um patriótico desempenho da função, por enchidos, broa de milho e tinto de boa cepa.

Quiseram Saramago em jangada em troca de um honesto Oscar Wilde. E a seguir pedem Señor Gabo, por supuesto. Olé! Pedem também novos autores lusos e que se exaltem os Nobel. Fala-se em matemática, fazendo-se tábua rasa (ou será Flatland? :-) da imagem adamastoresca que a mesma para nós tem e junta-se-lhe raciocínio universal, praxis, continhas de contar dias e episódios do quotidiano, romance também, q.b. Têm - temos - sede, nota-se. De partilha pelo gosto cada vez mais arcaico pelo livro. Pela leitura, esta não arcaica mas sem a habituação necessária a e-books, PDF’s e outra literatura cintilante de monitor, LCD tornado LSD, devaneios oftalmológicos desnecessários à apreciação da obra literária.

São de todo o lado e de todas as dimensões: matemáticos, professores, galeristas, bancários, biólogos, bibliotecários e projectos de, reformados e no activo, funcionários do sector público e privado, alguns comem um bolito, outros comem mais do que um, imaginem o descaramento! Nota-se que estão bem, de bem com a vida e de bem com os livros. Só queriam era falar. Falar do que liam, do que lêem e do que hão-de ler.

Está maior, a colecção das BMO’s. Tem um livro novo: o Grupo de Leitores da BM Carnaxide.

1 comentário:

MCA disse...

Gaspar,
Finalmente a esperada identificação. Já te imaginava uma espécie de zorro das bibliotecas. Just kidding.
Um abraço.
PS: Com que então, colega do Filipe Leal. Manda-lhe um abraço por mim (também lhe hei-de escrever).