quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

Poemário - Filipe Leal II

AS SETE ARTES DO PREDADOR


O que germina na sombra tem mais sede. E o seu coração pulsa
num rumor selvagem adivinhando os lugares secretos
onde a lua segrega os teus odores. Mas nem os pássaros
pressentem a sofreguidão com que a luz perpendicular
te devora as asas. O silêncio vegetal que se liberta das ervas
e das árvores torneadas pelos teus passos, quando o ar sustenta
um olhar mais demorado que encontra desprevenidos
os teus pensamentos mais velozes e secretos. Momentos breves
em que os rios correm subterraneamente em busca da tua boca.

Pudesses mesmo assim saber o lugar e o momento e encontrarias talvez
um refúgio, entrepondo a voz entre o corpo e a alma, nomeando um a um
todos os rituais de iniciação da sensibilidade para a dor e o prazer.
As florestas que os teus gestos contêm e a luminosidade do verbo
que conjugas quando abandonas o teu corpo aos bichos, esses cruéis
portadores de beijos profundos. Talvez prefiras fecundar a terra
como teu sangue a deixares que alguém te descubra enquanto dormes,
enquanto alinhas a tua breve memória epigráfica.


Filipe Leal, 41 anos, bibliotecário

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