quarta-feira, 6 de junho de 2007

O inodoro...


Quantas vezes nos vêm à cabeça os cheiros, quando recuamos no tempo? O cheiro de casa da avó, do colo da mãe, da praia, das férias, do bacalhau na consoada, do primeiro dia de escola… Importante – não é? –, o olfacto? E se, por qualquer acaso, não tivéssemos cheiro? Não que não fossemos capazes de cheirar, mas se nada emanasse de nós? Seríamos gente? Existiríamos?
O Grupo de Leitores de Carnaxide andou em volta do “Perfume: história de um assassino” e colocou-se as supracitadas interrogações e outras que se seguem: seria Jean-Baptiste Grenouille gente? Seria inimputável, à luz das actuais leis? Seria como o louco da Barca do Inferno – o único a ir para o céu? Ou teria plena consciência moral? E o autor, esse eremita de seu nome Patrick Süskind? Haverá nesta ficção algo de autobiográfico? Certo, certo é que também este gosta do recolhimento, de quartos pequenos e da distância de tudo e todos.
Se do debate se esperariam unanimidades, pois nada de mais falso. Desde assassino a criatura bela e isenta de pecado (consciência de, porque pecados tinha, e muitos), o viscoso Grenouille suscitou paixão e aversão. Mas duas conclusões se tiraram: uma excelente obra de ficção, por um lado; uma obra que se esgota em si mesmo, por outro. Uma excelente obra de ficção pela escrita simples, escorreita, arrebatadora, que dá vontade de tudo ler de um só trago e pela ideia – genial – que gira em torno do olfacto apurado de quem não exala (ou será se exala…); uma obra que se esgota em si mesmo por não reportar tão directamente para o real – algo que, pelo contrário, tinha acontecido com as obras analisadas anteriormente. Nessas, para lá do enredo, fizemos paralelismos com as nossas próprias vidas e com as dos autores – a saber, Saramago, Gabo, Neruda e Thomas Mann. Como disse a Antonieta: “não é uma obra seminal”. Mas, como retorquiu a Elisabete “não é um grande livro, mas é uma grande história”!
Certo, certo, é que não deixou ninguém indiferente, este… inodoro (calha bem, que eu até estou constipado)! Vemo-nos em Oeiras, para a semana!

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