sábado, 2 de junho de 2007

Ler Poesia

Um livro é uma máquina que pensa por mim e é uma máquina barata.
Mas eu não quero que pensem por mim sempre da mesma maneira.
O mesmo livro pensa sempre da mesma maneira.
Se eu fechar o livro, calo-me, e as pedras pesam-me mais no crânio.
Se eu abrir o livro começo a falar, mas digo sempre a mesma coisa.

Alguém ma disse que um livro de poesia é diferente.
É uma máquina muito mais rápida.
A cada vez que passa, passa de outra maneira.
Deve ter pés estranhos.
Pés adaptáveis à terra
ou então capazes de a dominar.
De resto nunca li um livro de poesia.
Sou demasiado homem para isso.
Sou demasiado contemporâneo: trabalho muito.
Ler poesia para quê?
Eu trabalho muito, sou contemporâneo. Ler poesia para quê?

Gonçalo M. Tavares in O homem ou é tonto ou é mulher;

Sem comentários: